Lucas Luan Durães's profile

Escrevendo LGBT para LGBTs

Escrevendo LGBT para LGBTs
A literatura voltada ao público LGBTQIA+ do ponto de vista de um autor que faz parte da comunidade 
As Edições GLS foram criadas em 1998, numa época na qual reinava um enorme preconceito contra a comunidade LGBTQIA+. Hoje, o mercado editorial tem valorizado e dado mais importância à literatura voltada a esse público, e as GLS tem muito orgulho de ter aberto a primeira porta. É por esse motivo que mantém seu nome antigo, com a certeza de que seu pioneirismo em abordar esses temas contribuiu de alguma forma para uma sociedade mais plural e reflexiva, quebrando diversos estereótipos postos pela sociedade.

No mês do orgulho, convidamos o autor, jornalista e tradutor Márcio El-Jaick para falar sobre ser LGBT e escrever sobre LGBTs, comunidade que lutou para conquistar diversos espaços nos últimos anos. Para iniciar, perguntamos ao autor se ele teve dificuldades na literatura e se sente que está mais fácil escrever para LGBTs hoje em dia. “Nos últimos anos, o que na minha vivência eu tinha por verdade incontestável, que historicamente a gente só anda para a frente, foi posto em xeque. E, embora a comunidade LGBTQIA+ tenha feito progressos assombrosos, ocupando espaços inéditos e pautando discussões centrais, a onda conservadora trazida por uma extrema direita LGBTQIA+fóbica e racista fez que tivéssemos de fincar os pés para não recuar em batalhas que já tínhamos ganho”, comenta o autor sobre os últimos anos. “Então, por um lado temos uma deputada federal trans e negra que nos faz acreditar num futuro que era nossa ideia passada de futuro e, por outro, temos uma quadrilha reacionária que espalha o terror de uma distopia por intermédio de fake news. Na literatura, especialmente, não sinto que tenha havido maior dificuldade nesses tempos, porque fascista não lia, continua não lendo”, complementa El-Jaick.

Em um país onde muitas vezes a limitação se dá devido ao preconceito, perguntamos a Márcio se ele sente que hoje tem mais liberdade de escrita, podendo abordar novas temáticas que antes eram consideradas tabus. “Para qualquer criação artística é preciso liberdade. Então, nesse sentido, nunca me deixei limitar, nunca me impuseram limitações. O que a repressão conservadora pode fazer é espernear, porque é da natureza dela espernear, na tentativa de cercear a chegada das obras ao público, como tentaram com o Queermuseu em 2017, com alguns títulos LGBTQIA+ na Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro em 2019 e com o espetáculo O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu, estrelado pela Renata Carvalho, que foram todos ‘tiros’ que saíram pela culatra. O Queermuseu virou um sucesso nacional, os títulos demonizados pela extrema direita foram comprados e distribuídos aos milhares pelo Felipe Neto, e Renata Carvalho, que é sempre um sucesso, está atualmente em cartaz com o espetáculo Manifesto Transpofágico, que acaba de encerrar uma temporada de ingressos esgotados no Rio”, responde o autor, dando exemplos de liberdade na arte.

Quando pedimos que desse um conselho a alguém que está começando a escrever e visa ter pessoas LGBTQIA+ como público-alvo, o autor diz: “Se o público dessa pessoa que está começando a escrever é o público LGBTQIA+, imagino que a pessoa se identifique com ele. Acho que um público se torna seu público-alvo de maneira orgânica, porque é com ele que você quer ou precisa dialogar. E o que posso aconselhar a essa pessoa que está começando a escrever é qualquer coisa batida, como ‘faça o que você sentir que deve fazer, porque vai ser o certo’”.

Disponível em: https://www.gruposummus.com.br/blog/escrevendo-lgbt-para-lgbts/
Escrevendo LGBT para LGBTs
Published:

Escrevendo LGBT para LGBTs

Published:

Creative Fields